RIMAS DA MINHA VIDA na VIRADA CULTURAL PAULISTA 2011


Rimas da Minha Vida - Beá Galvão

14/05,  sábado, às 19h,  na Sala Mário Covas (antiga câmara de São José dos Campos), situada na Praça Afonso Pena.
Capacidade: 100 pessoas.

Gratuito.


O espetáculo "Rimas da Minha Vida" cresceu, amadureceu, e recebe o reconhecimento tanto do público quanto dos profissionais culturais.

Nesta nova fase, com direção musical e acompanhamento do músico Geraldinho, passar a ter aproximadamente 50 minutos de duração, mantendo a qualidade e aumentando a identificação com os ouvintes.

Para o seleto público da Virada Cultural, os artistas envolvidos estão se esmerando em ensaios, pesquisas e muito preparo para encher de orgulho os presentes.

Roadie: Wagner Ferro




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Mais informações e programação completa: http://www.bipcultural.blogspot.com/

Músicas do Espetáculo "Rimas da Minha Vida"

Diretor musical: Geraldo Felipe dos Santos



Somente instrumental, por Geraldinho:

"Beatriz" - Edu Lobo e Chico Buarque http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45115/

"Sete Cantigas para Voar" - Vital Farias http://letras.terra.com.br/vital-farias/380164/

"Mulher" - Custódio Mesquita e Sady Cabral http://letras.terra.com.br/emilio-santiago/45699/

"Pagu" - Rita Lee e Zélia Duncan - http://letras.terra.com.br/rita-lee/81651/

"Cotidiano" - Chico Buarque - http://letras.terra.com.br/chico-buarque/82001/

"Pedaço de Mim" - Chico Buarque - http://letras.terra.com.br/chico-buarque/86030/

"Eu Te Devoro" - Djavan - http://letras.terra.com.br/djavan/45523/

"Ai, ai, ai, ai, ai" - Ivan Lins e Vitor Martins - http://letras.terra.com.br/ivan-lins/46428/

"Elegia" - Augusto de Campos e Péricles Cavalcanti - http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44723/

"Bachianinha nº 1" - Paulinho Nogueira - http://www.youtube.com/watch?v=tOv9K-u2-AY

MULHER AO ESPELHO - Cecília Meireles

Hoje que seja esta ou aquela,

pouco me importa.

Quero apenas parecer bela,

pois, seja qual for, estou morta.



Já fui loura, já fui morena,

já fui Margarida e Beatriz.

Já fui Maria e Madalena.

Só não pude ser como quis.



Que mal faz, esta cor fingida

do meu cabelo, e do meu rosto,

se tudo é tinta: o mundo, a vida,

o contentamento, o desgosto?


Por fora, serei como queira

a moda, que me vai matando.

Que me levem pele e caveira

ao nada, não me importa quando.



Mas quem viu, tão dilacerados,

olhos, braços e sonhos seus

e morreu pelos seus pecados,

falará com Deus.



Falará, coberta de luzes,

do alto penteado ao rubro artelho.

Porque uns expiram sobre cruzes,

outros, buscando-se no espelho.

EX-OFFICIO - Beatriz Galvão Nogueira

Esse feitiço que me consome

Esse encantamento que não passa

nem com reza braba

nem com sal grosso três sextas-feiras



... me faz tão bem!

"Novos Ares" - Beatriz Galvão Nogueira

Fogoágua


As gotas de vinho

escondidas sob minhas vestes

Escorreram com a

água.

O desejo de embriagar-te

Só dissolve

na tua saliva.

Terra

Não senti a gravidade

no teu corpo

Não senti teus pelos

na minha pele

Nem teu cheiro, teu gosto

Tuas mãos, tua língua

teu gozo.

Só os meus lençóis.

Ar

Nunca escrevo o terceiro poema

Aquele, celebrando o amor.

São sempre dois

Dois copos

Dois corpos

Duas histórias

Um fim

sem meio

Anna Akhmatova

...

Mas a ti, a ti eu celebrarei em meus versos,

como mulher alguma jamais fez.

Tu, querido, relembrarás tua amada

no paraíso que criaste para os olhos dela.

Enquanto isso, eu comercio estes tesouros:

teu amor, tua ternura, vou vendê-los.

PRAZER EM APAIXONAR-ME ou RIMAS DA MINHA VIDA - Beatriz Galvão Nogueira

PRAZER EM APAIXONAR-ME ou RIMAS DA MINHA VIDA - Beatriz Galvão Nogueira



Tanto fiz por ele...

emagreci,

me bronzeei,

cuidei dos cabelos,

pus rimas na minha vida...

quando percebi

estava apaixonada... por mim!!!


Quando percebi,

estava apaixonada por mim!

Pus rimas na minha vida,

cuidei dos cabelos,

me bronzeei,

emagreci.

Ah! Tanto fiz por ele...

Pesca a Dois - Pedro Ernesto Cursino

Acasos programados na noite-dia.

Desencontros frustrantes.

Frustrados. Frustração.



A cor que norteia meu sul.

Que me guia, cachorro cego.

Mexe e remexe com a minha libido.



Tumultua meu eu e seu.

Mexe e remexe meu sossego.

Desabafos desabafados.

Caos pacífico e pacato. Faço e faço questão.

De servir e ser servido.

De ser fisgado.

E fisgar.



Peixe que cai na rede.

Sendo fisgado pela minha vara.

Sem anzol. Sem isca.

Apenas pelo prazer de ser pescado.

Fisiológico - Pedro Ernesto Cursino

Quero que tudo aconteça.

Aconteça, role.

Mas que tudo vire.

Se são os pés, de ponta cabeça.

Se são as cabeças, nas pontas dos pés.

O que me importa, o que nos importa, é das cabeças aos pés.

Do que o coração anda,

a mente anda,

o corpo anda,

todos andamos.

PRAZER EM APAIXONAR-TE - Beatriz Galvão Nogueira

Até que numa noite, sob a Lua e a música de Geraldinho:

— Beatriz...

— Você que gostaria de conhecer o George Horácio, do Zine?

— Ao seu dispor!



As tochas de fogo realçavam sua aura.

Na sombra do seu rosto, pude ver a face mais bela, a brilhante pureza de seus olhos e o sorriso mais delicioso naquela boca ainda cerrada após o irônico galanteio.



Era da altura dos meus sonhos.

Seus braços, do tamanho do meu travesseiro.

O peito quente, peludo talvez, me aninharia anos a fio.

As pernas - grossas com certeza - me acompanhariam livremente.

E os pés, ah! os pés, macios (ou com meias), roçariam os meus em noites memoráveis.



— Muito... prazer, Beatriz!

O ÚLTIMO BRINDE - Anna Akhmatova

27/03/1934



Bebo à casa arruinada,

às dores da minha vida,

à solidão, lado a lado

e a ti também eu bebo –

aos lábios que me mentiram,

ao frio mortal no olhar,

ao mundo rude e brutal

e a Deus que não nos salvou

DUELO ÍNTIMO - Myrthes Masiero

Esta noite,

fora do meu costume,

eu me nego a me deitar nessa cama vazia

enrolada nos restos de tua ausência

prolongada

e sempre impune...



esta noite,

prefiro dormir sozinha e encurralada

neste abandono,

sob a coberta pesada

de minhas emoções extenuadas,

no chão frio do meu sono...



Prefiro qualquer coisa

a ficar aqui nessa noite sem fim

a esperar que tua ausência

tão presente e contínua

estenda sobre mim

neste corpo sem dono

os restos mortais de um amor

desgastado,

esfarrapado

e em ruína...

FRAGMENTOS BRANCOS II - Josefina Neves Mello

lava os pratos

tendo por patrão

os ponteiros do relógio



essa mulher

pêndulo de nervos

sobrevive no limite

entre a santidade /

e a blasfêmia

COM LICENÇA POÉTICA - Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo.



Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

BARREIRA - Juracy Ribeiro

quem fala comigo

nesse tom

nunca vai tirar

o meu batom

nem içar bandeiras

tampouco desbravar

minhas entradas

CONFISSÕES AVULSAS NUMA TARDE DE OUTONO - Zenilda Lua

Para ter você

Mudei meus rumos, meus hábitos, minha voz, meu olhar e meu hálito

Desobedeci-me colhendo lírios que nunca plantei

E deixando tantos outros de castigo

Secando ao Sol, sem abrigo.



Para ter você

Perdi os sonhos, os amigos, os planos

E aquela vontade de colocar meu coração num outdoor

ficou só

e adormeceu sem se repetir

sem se despedir de ninguém

O Pidido - Elomar

O pidido


Já qui tu vai lá prá fêra

Traga di lá para mim

Agua do fulô qui chêra

Um nuvelo e um carrin

Trais um pacote de misse

Meu amigo ah se tu visse

Aquele cego cantadô!

Um dia ele me disse

Jogano um mote de amô

Qui eu havéra de vivê

Pur esse mundo

E morrê ainda em flô

Passa naquela barraca

Daquela mulé reizêra

Onde almuçamo paca

Panelada e frigidêra

Inté você disse vã lõa

Gabano a boia bôa

Qui das casa da cidade

Aquela era a primêra

Trais pra mim vãs brividade

Qui eu quero matá a sôdade

Fais tempo qui fui na fêra

Ai sôdade...

Apois sim vê se num isquece

Quinda nessa lua chêa

Nós vai brincá na quermesse

Lá no Riacho d'Arêa

Na casa daquêle home

Feitecêro e curadô

Que o dia intêro é home

Filho do Nosso Sinhô

Mais dispois da mêa noite

É lubisome cumedô

Dos pagão qui as mãe isqueceu

Do batismo salvadô

E tem mais dois garrafão

Cum dois canguin responsadô

Apois sim vê se num isquece

De trazê ruge e carmim

Ah se o dinheiro desse!

Eu quiria um trancilin

E mais treis metro de chita

Qui é preu fazê um vistido

E ficá bem mais bunita

Qui Madô de Juca Dido

Qui Zefa de lô Joaquim

Já qui tu vai lá prá fêra

Meu amigo trais

Essas coisinhas para mim...



Saudaaaaaaadi...

À Beatriz - Edson Galvão

À Beatriz



A vida nos inventa, cada um diferente dos outros...

E nos surpreende com risos, quando se espera o choro

Com amor, onde poderia se esperar o ódio

E ódio, onde deveria estar o amor.



A vida brota

E transborda

Através da representação do dia a dia!...



Que faço aqui?

Com quem estou falando?



Que são essas revelações?

Por que interpretar textos de outras criaturas?



Será porque abafa a própria voz?



Ou será porque não sabe bem se aquilo que pensa é seu próprio pensamento

E nem se o que deseja é o seu querer ou de outrem?



Uma linguagem elegante, uma constante, uma ironia.

Uma vida inteligente, capaz de enxergar e reconhecer os próprios erros

e acertos.

De driblar, com energia, o destino.

De escrever uma grande história, a sua história.



E aí então, interpretar a sua história interior, com este indelével

entusiasmo que a move.



Vá, filha! Conte-nos a sua história.





Beijo, seu Pai Edson

outono/2008